Livro Segundo
I
Barca Bela
Pescador da barca bela,
Onde vais pescar com ela,
Que é tão bela,
Oh pescador?
Não vês que a última estrela
No céu nublado se vela?
Colhe a vela,
Oh pescador!
Deita o lanço com cautela,
Que a sereia canta bela…
Mas cautela,
Oh pescador!
Não se enrede a rede nela,
Que perdido é remo e vela
Só de vê-la,
Oh pescador.
Pescador da barca bela,
Inda é tempo, foge dela,
Foge dela,
Oh pescador!
II
A Coroa
Bem sei que é toda de flores
Essa coroa de amores
Que na frente vais cingir.
Mas é coroa – é reinado;
E a posto mais arriscado
Não se pode hoje subir.
Nesses reinos populosos
Os vassalos revoltosos
Tarde ou cedo dão a lei.
Quem há-de conter, domá-los,
Se são tantos os vassalos
E um só o pobre rei?
Não vejo, rainha bela,
Para fugir essa estrela
Que os reis persegue sem dó.
Mais que um meio – falo sério:
É pôr limites ao império
E ter um vassalo só.
III
Sina
Por todas quantas estrelas
Tem o céu que possam mais,
Pelas flores virginais
De que se c’roam donzelas,
Pelas lágrimas singelas
Que o primeiro amor derrama,
Por aquela etérea chama
Que a mão de Deus acendeu
E que na terra alumia
Quando há na terra do céu!
Por tudo quanto eu queria
Quando eu sabia querer,
E por tudo quanto eu cria
Quando me era dado crer!
Bem-fadada seja a vida
Que por estas folhas brancas
Sua história há-de escrever!
Que as dores lhes venham mancar
E com asas o prazer!
Esta sina que lhe dou,
Bruxa não na adivinhou,
Nem duende ma ensinou:
Li-a eu por meu condão
Em seus olhos inocentes,
Transparentes - transparentes
Até dentro do coração.
IV
Ai, Helena!
Ai, Helena! de amante e de esposo
Já o nome te faz suspirar,
Já tua alma singela pressente
Esse fogo de amor delicioso
Que primeiro nos faz palpitar!…
Oh! não vás,donzelinha inocente,
Não te vás a esse engano entregar:
É amor que te ilude e te mente,
É amor que te há-de matar!
Quando o Sol nestes montes desertos
Deixa a luz derradeira apagar,
Com as trevas da noite que espanta
Vêm os anjos do Inferno encobertos
A sua vítima incauta afagar.
Doce é a voz que adormece a quebranta,
Mas a mão do traidor… faz gelar.
Treme, foge do amor que te encanta,
É amor que te há-de matar.
V
A Rosa – Um Suspiro
Se esta flor tão bela e pura,
Que apenas uma hora dura,
Tem pintado no matiz
O que o seu perfume diz,
Por certo na linda cor
Mostra um suspiro de amor:
Dos que eu chego a conhecer
É este o maior prazer.
E a rosa como um suspiro
Há-de ser; bem se discorre:
Tem na vida o mesmo giro,
É um gosto que nasce e – morrer.
VI
Retrato
(Num Álbum)
Ah! despreza o meu retrato
Que lhe eu queria aqui pôr!
Tem medo que lhe desfeie
O seu livro de primor?
Pois saiba que por despique
Eu sei também ser pintor:
Co esta pena por pincel,
E a tinta do meu tinteiro,
Vou fazer o seu retrato
Aqui já de corpo inteiro.
Vamos a isto. – Sentada
Na cadeira moyen-âge,
O cabelo en Châtelaines,
As mangas soltas. – É o traje.
Em longas pregas negras
Caia o veludo e arraste;
De si com desdém régio
Com o pezinho o afaste…
Nessa atitude! Está bem:
Agora mais um jeitinho;
A airosa cabeça a um lado
E o lindo pé no banquinho.
Aqui estão os contornos, são estes,
Nem Daguerre lhos tira melhor.
Este é o ar, esta a pose, eu lho juro,
E o trajar que lhe fica melhor.
Vamos agora ao difícil:
Tirar feição por feição;
Entendê-las, que é o ponto,
E dar-lhe a justa expressão.
Os olhos são cor da noite,
Da noite em seu começar,
Quando inda é jovem, incerta,
E o dia vem de acabar;
Têm uma luz que vai longe,
Que faz gosto de queimar:
É uma espécie de lume
Que serve só de abrasar.
Na boca há um sorriso amável.
Amável é… mas queria
Saber se é todo bondade
Ou se meio é zombaria.
Ninguém mo diz? O retrato
Incompleto ficará,
Que nestas duas feições
Todo o ser, toda a alma está.
Pois fiel como um espelho
É tudo o que nele fiz;
E o que lhe falta – que é muito,
Também o espelho o não diz.
VII
Lucinda
Ergue a frente, lírio,
Ergue a branca frente!
O astro do delírio
Já surgiu no Oriente.
Vês, o sol ardente
Lá caiu no mar;
A frente pendente
Ergue a respirar!
Alvo é o luar,
Teu alvor não cresta;
A hora de gozar,
De viver é esta.
Longa foi a sesta,
longo o teu dormir;
Ergue a branca testa,
Tempo é de surgir!
Já se abre a sorrir
Tua boca linda…
Despertar, sentir
Ou sonhas é ainda?
Sonho que não finda
Será o teu sonhar.
Se a dormir, Lucinda,
Te sentes amar.
VIII
As Duas Rosas
Sobre se era mais formosa
A vermelha ou branca rosa,
Ardeu séculos a guerra
Em Inglaterra.
Paz entre as duas, jamais!
Reinar ambas as rivais,
Também não; e uma ceder
Como há-de ser?
Faltei eu lá na Inglaterra
Para acabar com a guerra.
Ei-las aqui bem iguais,
Mas não rivais.
Atei-as em laço estreito:
Que artista fui, com que jeito!
E oh! que lindas são, que amores
As minhas flores!
Dirão que é cópia – bem sei:
Que todo inteiro o roubei
Meu pensamento brilhante
Do teu semblante…
Será. Mas se é tão belo
Que lhe dêem esse modelo,
Do meu quadro, na verdade,
tenho vaidade.
IX
Voz e aroma
A brisa voga no prado,
Perfume nem voz não tem;
Quem canta é o ramo agitado,
O aroma é da flor que vem.
A mim, tornem-me essas flores
Que uma a uma eu vi murchar,
Restituam-me os verdores
aos ramos que eu vi secar..
E em torrentes de harmonia
Minha alma se exalará,
Esta alma que muda e fria
Nem sabe se existe já.
X
Seus olhos
Seus olhos – Se eu sei pintar
O que os meus olhos cegou -
Não tinham luz de brilhar,
Era chama de queimar;
E o fogo que a ateou
Vivaz, eterno, divino,
Como facho do Destino.
Divino, eterno! – e suave
Ao mesmo tempo. mas grave
E de tão fatal poder,
Que, um só momento que a vi,
Queimar toda a alma senti…
Nem ficou mais de meu ser,
Senão a cinza em que ardi.
XI
A Délia
Cuidas tu que a rosa chora,
Que é tamanho a sua dor,
Quando, já passada a aurora,
O Sol, ardente de amor,
Com seus beijos a devora?
- Fecho virgíneo pudor
O que inda é botão agora
E amanhã há-de ser flor;
Mas ela é rosa nesta hora,
Rosa no aroma e na cor.
- Para amanhã o prazer
Deixe o que amanhã viver.
Hoje, Délia, é nossa a vida;
Amanhã… o que há-de ser?
A hora de amor perdida
Quem sabe se há-de volver?
Não desperdices, querida,
A duvidar e a sofrer
O que é mal gasto da vida
Quando o não gasta o prazer.
XII
A Jovem Americana
Donde é que te eu vi, donzela,
E o que eras tu nesta vida
Quando não tinhas vestida
A forma de virgem bela
Que ora te vejo trajar?
Estrela foste no céu,
Serias no prado flor?
Ou, no diáfano ’splendor
De que Íris faz o seu véu,
Estavas, Silfa, a bordar?
Não houve poeta ainda
Que te não visse e cantasse,
Nem pintor que a face linda
Te não fosse copiar.
Séculos tens. – E ah!… já sei
Quem és, quem foste e hás-de ser:
Bem te eu estava a conhecer
Quando primeiro te olhei
Sem te poder estranhar.
Com Deus e coa Liberdade
De nossas terras fugiste
Quando perdidos nos viste,
E te foste à soledade.
Do Novo Mundo acoitar.
Pois que ora piedosa vens
E nos sentes ressurgir,
Oh! não tornes a fugir,
Que melhor pátria não tens
Nem que mais te saiba amar.
Teu natal celebraremos
Hoje e sempre: teus amigos
Somos na lealdade antigos,
E no ardor novos seremos,
No desvelo em te adorar:
Porque tu és Ideal
Da só beleza – do Bem;
Não és estranha a ninguém,
E de ti só foge o mal
Que te não pode encarar.
XIII
Adeus, Mãe
Adeus, mãe! adeus, querida,
Que eu já não posso coa vida,
E os anjos chamam por mim.
Adeus, mãe, adeus!… Assim,
Junta os teus lábios aos meus,
E recebe o último adeus
Neste suspiro… Não chores,
Não chores: aquelas dores
Já sinto acalmar em mim.
Adeus, mãe, adeus!… Assim,
Junta os teus lábios aos meus…
Um beijo – um último… Adeus!
E o corpo desanimado
No colo da mãe caia:
E ela o corpo… só pesado,
Só mais pesado o sentia!
não se lembra, não chora
E quase a sorrir, dizia:
- Que tem este filho agora,
Que tanto pesa? Não posso… -
E uma a uma, osso por osso,
Com a mão trémula tenta
As mãozinhas descarnadas,
as faces cavas, mirradas,
A testa inda morna e lenta.
- Que febre, que febre! – diz;
E em tudo pensa a infeliz,
Tudo – menos que morreu.
Como nos gelos do Norte
o sono traidor da morte
Engana o desfalecido
Que imagina adormecer,
Assim cansado, esvaído
De tão longo padecer,
Já não há no coração
Da mãe força de sentir;
não tem já lume a razão
Senão s+o para a iludir.
Acorda, ó mãe desgraçada,
Que é tempo de despertar!
Anda ver a eça armada,
As luzes que ardem no altar.
Ouves? É a rouca toada
Dos padres a salmear!…
Vamos, que a hora é chegada,
É tempo de o amortalhar.
E os anjos cantavam:
- Aleluia!
E os santos clamavam:
- Hossana!
Ao triste cantar da Terra
Responde o cantar do Céu;
Todos lhe brandam: – Morreu!
E a todos o ouvido cerra.
E os sinos a tocar,
E os padres a rezar,
E ela ainda a acalentar
Nos braços o filho morto,
Que já não tem mais conforto,
Mais sossego neste mundo
Que o jazigo húmido e fundo
Onde há-de ir a sepultar.
Levai, ó anjos de Deus,
Levai essa dor aos Céus.
Com a alma do inocente
Aos pés do Juiz Clemente
Aí fique a santa dor
Rogando à Eterna Bondade
Que estenda a imensa piedade
A quantos pecam de amor.
XIV
Ave, Maria!
Maria, doce mãe dos desvalidos,
A Ti clamo, a Ti brado!
A Ti sobem, Senhora, os meus gemidos,
A Ti o hino sagrado
Do coração de um pai voa, ó Maria,
Pela filha inocente.
Com sua débil voz que balbucia,
Piedosa Mãe clemente,
Ela já sabe, erguendo as mãos tenrinhas,
Pedir ao Pai dos Céus
O pão de cada dia. As preces minhas
Como irão ao meu Deus.
Ao meu Deus que é Teu Filho e tens nos braços,
Se Tu, Mãe de piedade,
Me não tomas por teu? Oh! rompe os laços
Da velha humanidade:
Despe de mim todo outro pensamento
E vã tenção da Terra:
Outra glória, outro amor, outro contento
De minha alma desterro.
Mãe, oh! Mãe, salva o filho que Te implora
Pela filha querida.
De mais tenho vivido, e só agora
Sei o preço da vida,
Desta vida, tão mal gasta e prezada
Porque minha só era…
Salva-a, que a um santo amor está votada,
Nele se regenera.
XV
Os Exilados
(Á Senhora Rossi-Caccia)
Eles tristes,das praias do desterro,
Os olhos longos e arrasados de água
Estendem para si… Cravado o ferro
Da saudade têm n’alma; e é negra mágoa
A que lhes rala os corações aflitos,
É a maior da vida – são proscritos,
Dor como outra não há, é a dor que os mata!
Dizer eu: «Essa terra é minha… minha,
Que nasci nela, que a servi, a ingrata!
Que lhe dei… dei por ela quando tinha,
Sangue, vida, saúde, os bens da sorte…
E ela, por galardão, me entrega à morte!»
Morte lenta e cruel – a de Ugolino!
Bem lhes quiseram dar…
Mas não será assim: sopro divino
De bondade e nobreza
Não o pode apagar
Nos corações da gente portuguesa
Esse rancor de fera
Que em almas negras, negro e vil impera.
Tu, génio da Harmonia,
Tu solta a voz em que triunfa a glória,
Com que suspira amor!
Bela de entusiasmo e de fervor,
Ergue-te, ó Rossi, tua voz nos guia:
A tua voz divina
Hoje um eco imortal deixa na história.
Indo no mar de Egino
Soa o hino de Alceu;
E atravessaram séculos
Os cantos de Tirteu.
Mais poderosa e válida
A tua voz será;
A tua voz não morrerá.
Nós no templo da pátria penduramos
Esta c’roa singela
Que de mitro e de rosas entrançamos
Para essa fronte bela:
Aqui, de voto, ficará pendente,
E um culto de saudade
Aqui, perenemente,
Lhe daremos no altar da Liberdade.
XVI
Preito
É lei do tempo, senhora,
Que ninguém domine agora
E todos queiram reinar.
Quanto vale nesta hora
Um vassalo bem sujeito,
Leal de homenage e preito
E fácil de governar?
Pois o tal sou eu, Senhora:
E aqui juro e firmo agora
Que a um despótico reinar
Me rendo todo nesta hora,
Que a liberdade sujeito…
não a reis! – outro é meu preito:
Anjos me hão-de governar.
XVII
No Lumiar
Era um dia de Abril; a Primavera
Mostrava apenas seu virgíneo seio
entre a folhagem tenra; não vencera,
De todo. o Sol o misterioso enleio
Da névoa rara e fina que estendera
A manhã sobre as flores; o gorjeio
Das aves inda tímido e infantil…
Era um dia de Abril.
E nós íamos lentos passeando
De vergel em vergel, no descuidado
Sossegado d’alma que se está lembrando
Das lutas do passado,
Das vagas incertezas do provir.
e eu não cansava de admirar, de ouvir,
Porque era grande, um grande homem deveras
Aquele Duque – ali maior ainda,
Ali no seu Lumiar, entre as sinceras
Belezas desse parque, entre essas flores,
a qual mais bela e de mais longe vinda
Esmalta de mil cores
Bosque, jardim, e as relvas tão mimosas,
Tão suaves ao pé – muito há cansado
De pisar alcatifas ambiciosas,
De tropeçar no perigoso estrado
Das vaidades da terra.
E o velho Duque, o velho homem de estado,
Ao falar dessa guerra
Distante – e das paixões da humanidade,
Sorria malicioso
Daquele sorrir fina sem maldade,
Que tão seu era, que, entre desdenhoso
E benévolo, a quanto lhe saía
Dos lábios dava um cunho de nobreza,
Da razão superior.
e então como ele a amava e lhe queria
A esta terra portuguesa!
Velha tinha a razão, velha a experiência,
Jovem só esse amor.
Tão jovem, que inda cria, inda esperava,
Inda tinha a fé viva da inocência!…
Eu, na força da vida,
Tristemente de mim me envergonhavas.
- Passeávamos assim, e em reflectiva
Meditação tranquila descuidados
Íamos sós, já sem falar, descendo
Por entre os velhos olmos tão copados,
Quando sentimos para nós crescendo
Rumor de vozes finas que zumbia
Como enxame de abelhas entre as flores,
E vimos, qual Diana entre os menores
astros do céu, a forma que se erguia,
Sobre todas gentil, dessa estrangeira
Que se esperava ali. Perfeita, inteira
No velho amável renascer a vida
E a graça fácil. Cuidei ver o antigo
O nobre Portugal que ressurgia
No venerado amigo;
E na formosa dama que sorria,
O génio da subida,
Raro e fina elegância que a nobreza,
O gosto, o amor do belo, o instinto da Arte
Reúne e faz irmãos em toda a parte;
Que afere a grandeza
Pela medida só dos pensamentos,
Do ‘stilo de viver, dos sentimentos,
Tudo o mais fútil desprezando.
Pensei que a saudar o velho ilustre
Em seus últimos dias
E a despedir-se, até Deus sabe quando,
de nossas praias tristes e sombrias,
Vinha esse génio… Tristes e sombrias,
que o sol lhe foge, lhe esmorece o lustre,
E onde tudo o que é alto vai baixando…
O triste, o que não tem já sol que o aqueça
Sou eu talvez – que, à míngua de fé, sinto
O cérebro gelar-me na cabeça
Porque no coração o fogo é extinto.
Ele não era assim,
Ou sabia fingir melhor do que eu!
-Como o nobre corcel que envelheceu
Nas guerras, ao sentir o áureo telim
E as armas sobre o dorso descarnado,
Remoço o garbo, em juvenil meneio
Franja de espuma o freio,
E honra os brasões da casa em que foi nado.
Nunca me há-de esquecer aquele dia!
Nem os olhos, as fala, e a sincera
admiração da bela dama inglesa
Por tudo quanto via:
O fruto, a flor, o aroma, o sol que os gera,
E esta vivaz, veemente natureza,
Toda de fogo e luz,
Que ama incessantemente, que de amor não cansa,
E continua produz
Nos frutos o prazer, na flor a esp’rança.
ali as nações todas se juntaram,
Ali as várias línguas se falaram;
A Europa convidada
Veio ao festim, ao preito.
Vassalagem rendida foi prestada
Ao talento, à beleza.
A quanto n’alma infunde amor, respeito,
Porque é deveras grande: – que a grandeza
Os homens não a dão;
Pôe-na por sua mão
Naqueles que são seus,
Nos que escolheu - só Deus.
Oh! minha pobre terra, que saudades
Daquele dia! Como se me aperta
O coração no peito coas vaidades,
Coas misérias que aí vejo andar alerta,
À solta apregoando-se! N intriga,
Na traição, na calúnia é forte a liga,
É fraca em tudo o mais…
Tu, sossegado
Descansa no sepulcro; e cerra, cerra
Bem os olhos, amigo venerado,
Não vejas o que vai por nossa terra.
Eu fecho os meus, para trazer mais viva
Na memória a tua imagem
E a dessa bela Inglesa que se esquiva
De nós entre a folhagem
Dos bosques de Parténope. Cansado,
Fito neste miragem
Os olhos d’alma, enquanto que arrastado,
Vai o tardio pé
Por este que inda é,
Que cedo não será, bem cedo – em mal!
O velho Portugal!
XVIII
A Um Amigo
Fiel ao costume antigo,
Trago ao mau jovem amigo
Versos próprios deste dia.
E que de os ver tão singelos,
Tão simples como eu, não ria:
Qualquer os fará mais belos.
Ninguém tão d’alma os faria.
Que sobre a flor de seus anos
Soprem tarde os desenganos;
Que em torno os bafeje amor,
Amor da esposa querida,
Prolongando a doce vida
Fruto que sucede à flor.
Recebe este voto, amigo,
Que eu, fiel ao uso antigo,
Quis trazer-te neste dia
Em poucos versos singelos.
Qualquer os fará mais belos,
Ninguém tão d’alma os faria.
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